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O professor de Comunicação e Música comenta e bota pra tocar diversos jingles, aquelas musiquinhas que acompanham os comerciais no rádio e na TV. Em outra aula, o de Planejamento e Produção de Eventos ensina como realizar captação de recursos para tornar viável o projeto desenvolvido por alunos. Mais tarde, o professor de História da Comunicação utiliza jogos de palavras e gestos para explicar ludicamente a dificuldade de expressão do homem que ainda não podia falar. Três aulas, um só professor: Antônio José Chaves – ou simplesmente AJ. Jornalista e mestre em Ciência da Informação, ele estudou música na Villa Lobos, é tecladista e vocalista da banda Idéia Abstrata, regente do coral Servos da Paz, já atuou como DJ (em 2002, representou o Brasil no Madonna Remix Contest), presta consultoria na área de Comunicação e trabalha com produção de eventos. Em sua terceira passagem pela coordenação de Jornalismo da UniCarioca, o editor do NTC fez questão de ser entrevistado não por um aluno somente, mas por toda sua equipe.

Ronize Aline, professora de Jornalismo e chefe de redação do NTC – Os jornalistas não têm um conselho da categoria, como acontece com algumas outras profissões. Como você vê a polêmica proposta de criação de um Conselho Federal de Jornalismo?
AJ – Creio que a discussão gira em torno de a quem interessa e a quem não interessa a existência deste conselho. Há 39 anos, o Congresso Nacional arquivou um primeiro projeto de criação do CFJ. Os Parlamentos que se sucederam e tiveram e têm entre seus membros vários proprietários de veículos de comunicação não permitiram que a proposta saísse do papel. Em 2004, o Governo Lula propôs um Projeto de Lei criando o conselho, com instâncias de regulamentação e controle ético da atividade jornalística – não foi um momento propício para o debate, pois em meio às denúncias envolvendo a Casa Civil, o BB e dirigentes do BC, parecia que a única intenção do governo era calar a imprensa. Para os patrões, um Conselho de Jornalismo tornaria mais difícil a manutenção de determinadas condições de trabalho e salário que hoje existem. Para os jornalistas seria um grande avanço – porém, nós ainda nos mobilizamos de modo menos organizado e em bloco que os empresários e políticos.

Cláudia Gomes, aluna de Jornalismo do Rio Comprido – Você é coordenador de Jornalismo há muito tempo. Como você diferencia o aluno de jornalismo de hoje e os da época em que você ainda era aluno?
AJ – Creio que o estudante de hoje, de modo geral, é mais exigente com a instituição do que consigo mesmo... Quando me graduei, há 20 anos, ainda não havia Internet no Brasil, logo a biblioteca era point de qualquer estudante. De modo algum quero dizer que a máquina de escrever era melhor que o notebook, ou que a foto analógica perdeu seu valor. Mas a falta de recursos nos obrigava a ser mais criativos. Hoje qualquer um edita e coloca no ar um vídeo de sua própria casa – mas pensar e produzir conteúdo continua sendo privilégio de poucos. É esta percepção que procuro transmitir a meus alunos.

Jean Pierre Hashimoto, coordenador do curso de Comunicação Social e diagramador do NTC - O que você acha importante para um aluno se tornar um bom jornalista?
AJ – Todo semestre, faço esta pergunta aos alunos de 1º período, e peço que eles me assinalem o que consideram mais importante entre ser ético, corajoso, responsável, determinado, educado, audacioso, “sem vergonha” e ler muito. Em maior ou menor grau, considero que estas são as qualidades essenciais a um bom jornalista. Depois peço que os alunos apontem dois jornalistas que têm as qualidades que eles escolheram e lhes são referência. Há uma passagem do Evangelho de Lucas, em que Jesus diz: “O discípulo não está acima do mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como seu mestre”. Se o limite do aprendiz é seu mestre, quanto melhores os referenciais de que os estudantes dispõem – professores e profissionais – melhor será sua formação.

Juliana Matielli, aluna de Jornalismo da Unidade Meier – Conte-nos uma experiência marcante que você viveu como coordenador.
AJ – Sem dúvida alguma, a participação acadêmica no Rock in Rio 3, em 2001. Na época, eu acumulava a coordenação do Departamento e do Curso de Comunicação Social com a coordenação de Projetos em Comunicação da Gama Filho, e a pedido da Chancelaria elaborei um grande projeto que envolveu o Núcleo de Multimídia, a TV Gama e a Editora Gama Filho. A programação da TV Mundo Melhor, exibida pelo Jumbotron (telão do palco principal), era feita por alunos de Comunicação Social, coordenados por professores. Só a produção de fotos gerou mais de oito mil fotogramas no total, e os melhores viraram uma exposição fotográfica itinerante do festival. Os alunos receberam certificados de participação das mãos do Roberto Medina. Literalmente, um show!

Carolina Souza, aluna de Jornalismo e supervisora do Nucom - Como você faz para conciliar tarefas tão diversas que exigem tanto o seu tempo e sua presença?
AJ – Tudo é questão de gerenciar o tempo, o que nunca consigo (risos). Falando sério: é preciso fazer opções. Escolhi fazer parte de minhas tarefas como free-lancer pela facilidade do trabalho em casa. Como os ensaios do coral que rejo são às quartas à noite, não disponibilizo este horário para qualquer tarefa acadêmica, por exemplo. Se preciso realizar um evento neste mesmo horário, ou coloco alguém de minha confiança à frente desta tarefa, ou comunico minha ausência aos membros do coral com antecedência. Mesmo este planejamento não me impede de faltar a diversas festividades de amigos e parentes. Confesso que estou precisando das 20h a mais por dia propostas na Enquete desta edição...


AJ Chaves é jornalista e mestre em Ciência da Informação.

Entrevista publicada no Novo Tempo Carioca (NTC), jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social do Centro Universitário Carioca (UniCarioca), edição de NOV/DEZ de 2010, página 8.
Crédito da imagem acima: reprodução do jornal / foto de Angélica Lima.