Os textos desta página (Painel Musical) são de autoria de
Antônio José (AJ) Chaves.
FHC VETA PROJETO DE CDS NUMERADOS
O presidente Fernando Henrique Cardoso vetou, em 17 de julho, o projeto-de-lei nº 4.540, que previa a numeração de livros, CDs e obras científicas produzidas no Brasil. FHC sugeriu, contudo, a criação de um grupo de trabalho para propor um novo texto como alternativa ao da deputada Tânia Soares (PCdoB de Sergipe), que alteraria a Lei de Direitos Autorais ainda vigente. O projeto foi aprovado em junho pela Comissão de Constituição e Justiça e de Redação da Câmara dos Deputados e também pelo Senado Federal, mas não recebeu a sanção presidencial, mesmo contando com a simpatia do ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, e com campanha de mais de 500 artistas pela aprovação do novo texto. Representantes de gravadoras e editoras acreditam que o veto pode favorecer a chegada a um outro nível de discussão. A Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), que sempre se manifestou contrária ao projeto, alega que numeração de CDs vai aumentar a pirataria e é "fisicamente impossível" (só se for aqui, lá fora já existe em muitos países e sem qualquer problema de física...)
E POR QUÊ NÃO?
Afinal, a quem não interessa a numeração dos CDs? É o que se pergunta a Receita Federal, que vem reforçando a fiscalização sobre a indústria fonográfica desde dezembro de 2000. Na ocasião, as empresas do disco recorreram à Justiça e obtiveram liminares contra a decisão federal de impor um selo oficial para tentar frear a pirataria. Tanto o pretendido selo quanto a numeração dos CDs beneficiaria não só os proprietários de direitos autorais, mas também as empresas idôneas e, por tabela, a própria fiscalização da Receita. Pouco antes de autorizar que a Casa da Moeda fabricasse os selos, a Receita Federal realizou uma investigação preliminar em algumas capitais do país e descobriu que alguns CDs (aparentemente "legais") começavam a ser vendidos antes mesmo de serem lançados, o que poderia indicar roubo de matrizes ou desvio de produção, jamais contabilizada uma vez que não é numerada. Se qualquer uma destas hipóteses estiver correta, indica a conivência de funcionários com o esquema da pirataria. E mais estranha soa a decisão das empresas de entrarem na Justiça contra a criação dos selos...
DIVIDENDOS AUTORAIS
A revista "Veja" da 2ª semana de agosto/2002 traz reportagem que mostra que direitos autorais, se respeitados, podem significar sustento de muitas gerações. No Brasil, as canções campeãs de lucro são Aquarela do Brasil e Garota de Ipanema, cada uma faturando cerca de R$ 500 mil por ano. Aquarela, sozinha, responde por mais da metade dos R$ 800 mil que os dois filhos de Ary Barroso (1903-1964) recebem anualmente pela execução das músicas do pai. Os ganhos com Garota de Ipanema, regravada em quase todo o mundo, são divididos igualmente pelos herdeiros de seus dois autores, Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980). Jobim fundou uma editora para registrar suas criações, hoje comandada por sua viúva, Ana Lontra, que compartilha o dinheiro com os três filhos do compositor. Os herdeiros do instrumentista Pixinguinha (1898-1973) também reconhecem viver do legado do compositor. Há três anos, o filho e os netos do compositor abandonaram seus empregos e fundaram a PZM Produções Culturais – só Carinhoso garante entre R$ 80 mil e R$ 100 mil ao ano. Para preservar o patrimônio familiar e histórico, boa parte deste dinheiro tem sido usada para recuperar o catálogo de Pixinguinha.
MERCADO
INDEPENDENTE
CRESCE E
APARECE
Depois de marcar presença em um dos mais importantes eventos do mercado fonográfico mundial – a Feira de Midem, em Cannes (França) – as gravadoras independentes brasileiras estão conquistando a admiração aqui mesmo, dentro do país. Diante da pior crise de sua história, as grandes gravadoras continuam vendendo como vilões a pirataria e a Internet, esquecendo de mencionar que repete uma fórmula desgastada por 30 anos de uso, que passa pelo desrespeito ao trabalho criativo de muitos artistas – exatamente o fator que vem alavancando o crescimento das pequenas gravadoras, reunidas em torno da Associação Brasileira da Música Independente (ABMI). "Não é o marketing que deve determinar o que vai ser produzido artisticamente, mas sim o artista dizer o que o marketing tem que vender", afirmou à revista "CartaCapital" Luciana Rabello, uma das donas da Acari Records. A força das independentes pode ser medida pela recente troca feita por Maria Bethânia: depois de a BMG ter se recusado a produzir um CD dedicado à Nossa Senhora da Purificação, padroeira da artista, ela decidiu não renovar o contrato com a gravadora. Tanto este trabalho quanto o registro ao vivo do show Maricotinha vão ser lançados em setembro de 2002 pela gravadora Biscoito Fino. João Marcelo Bôscoli vai além nas críticas: sócio dos empresários André e Cláudio Sjazman na Trama, ele afirma que majors (grandes gravadoras) apenas induzem o público ao consumo, e erraram também em não criar uma relação com as universidades, para se ter nos cursos superiores disciplinas como Music business, e também permitindo que as aulas de música saíssem do currículo do ensino público no Brasil. É uma triste verdade. Tive a felicidade de lançar no currículo do Curso de Comunicação Social da UGF a eletiva "Comunicação e Música", e a infelicidade de perceber a perda da cultura e das referências musicais dos jovens estudantes a cada novo semestre...
O FIM DA PIRATARIA?
Já estão no mercado os primeiros CDs que (até que um hacker prove o contrário) impedem a cópia de músicas em computadores, a troca de canções pela internet e a gravação de músicas para compressão no formato MP3. Por enquanto, os CDs "protegidos" circulam somente na Europa e nos EUA. Como era de se esperar, a novidade tecnológica gerou protestos – mas ao contrário do esperado, não entre os que fazem cópias piratas. Usuários têm reclamado de uma possível "aposentadoria" forçada de seus aparelhos MP3 e, o que é pior, a tecnologia desenvolvida pelo Macrovision para a indústria fonográfica impede que os CDs sejam tocados em alguns drives de CD-Rom e também em aparelhos de DVD. As gravadoras, obviamente, defendem os CDs protegidos contra cópias, porque acusam a pirataria como responsável pela queda de 10% nas vendas de música somente nos EUA. Nessa queda de braço, arrisca-se a levar a pior o usuário que não tem nada a ver com a briga...

CRÍTICAS


Fazer músicas que caiam no gosto popular é uma especialidade de Leandro Lehart, que já possui 200 músicas gravadas, sendo 90% delas pelo grupo de pagode Art Popular do qual foi um de seus fundadores, e o restante por nomes como Lecy Brandão, Alcione, Exaltasamba e Netinho de Paula. Nascido e crescido no samba, ela agora lança seu 2º CD solo, que leva sua própria assinatura na produção. Das 12 faixas, que incluem sambas, baladas e influências da black music, destaque para a primeira música de trabalho, Camila bandida, e Torcida Futebol Clube, candidata à hino em qualquer estádio.


De volta à ativa, após quatro anos afastada da mídia brasileira, Patrícia Marx está lançando pela Trama seu novo CD, Respirar – o primeiro que pode ser considerado autoral, já que apenas uma das 12 faixas não foi composta pela artista. Conversei com Patrícia pelo telefone: a voz ainda parece a da adolescente que fez sucesso em todo o Brasil na década de 90, mas a maturidade da cantora (que já gravou um CD para o mercado japonês e que estudou a interpretação para cada música de seu novo trabalho, tendo como algumas de suas referências as sensacionais Elizeth Cardoso e Jill Scott) transparece em cada uma de suas respostas. Perguntada, por exemplo, se Respirar é um disco maduro para um público jovem ou uma experiência jovem para um público que amadureceu com a artista, ela afirma que o novo álbum é um prosseguimento e também um salto, um exercício de continuidade e de experimentação. Bem-vinda de volta, Patrícia.


O álbum de estréia de Nelly Furtado pode parecer mais um daqueles CDs com canções bobas voltadas pera o público adolescente... Mas quem ouvir sem preconceito Whoa, Nelly – que como diz a artista "é muito pop para ser rock, mas muito rock para ser pop" – vai se surpreender com as citações de música lusitana, de bossa-nova, hip-hop e até música indiana. No Canadá, onde vive em uma comunidade portuguesa, seu primeiro single I'm like a bird ficou no topo por bastante tempo; em seguida, foi número 1 em vários países da Europa e depois indicada ao Grammy de Música do Ano.


Talvez você – assim como aconteceu comigo – ainda não tenha ouvido falar em Rubens Lisboa, de quem recebi o CD Segundas intenções. Fui dar uma busca no Google e... milhares de sites! Sergipano de Aracaju, o cantor e compositor participou em 1984 do Festival de Música Novo Canto, obtendo a 4ª colocação com a música Samba da Utopia. No ano seguinte, através da interpretação de Amélia Daura, obteve o 1º lugar no Festival de Verão, realizado na Praia de Atalaia, em Aracaju (SE), com Aluaran (presente neste CD). Depois participou de outros festivais em Salvador (BA), Crato (CE), Teresina (PI), São Paulo (SP) e Maringá (PR), inicialmente somente como compositor e mais tarde defendendo suas próprias composições, sempre se colocando entre as músicas finalistas. Como você faz para comprar este CD e o anterior (Assim, meio de lua...), que são independentes? Vá ao site www.allbrazilianmusic.com - acreditem, não os achei em sites nacionais...